Comício do PCP em Faro reafirma alternativa

É preciso e é possível<br>ir mais longe

Num vi­brante co­mício re­a­li­zado no sá­bado à tarde em Faro, Je­ró­nimo de Sousa voltou a va­lo­rizar o que foi al­can­çado no úl­timo ano e a ga­rantir que o ca­minho não é voltar atrás mas «en­con­trar uma res­posta du­ra­doura para os pro­blemas na­ci­o­nais».

É pos­sível dar um salto qua­li­ta­tivo na luta pela al­ter­na­tiva

O grande au­di­tório do Campus de Gam­belas da Uni­ver­si­dade do Al­garve en­cheu-se na tarde de sá­bado, 21, para o co­mício do PCP com a pre­sença do Se­cre­tário-geral, Je­ró­nimo de Sousa, que nessa manhã es­ti­vera na ilha da Cu­latra a con­tactar com as po­pu­la­ções das ilhas-bar­reira da Ria For­mosa (ver pá­ginas cen­trais). Foi aliás com este tema que o di­ri­gente co­mu­nista ini­ciou a sua in­ter­venção, para re­alçar o res­peito e a con­fi­ança que aquelas po­pu­la­ções hoje sentem pelos co­mu­nistas e o seu Par­tido, em re­sul­tado da sua per­ma­nente in­ter­venção em de­fesa dos seus di­reitos. Estes sen­ti­mentos, acres­centou Je­ró­nimo de Sousa, con­trastam com a «des­con­fi­ança e de­si­lusão» com que essas po­pu­la­ções olham quer para a acção do an­te­rior go­verno PSD/​CDS quer para o ac­tual Go­verno mi­no­ri­tário do PS, o que com­prova que, também por isto, «vale a pena ser-se sério».

Mas o Se­cre­tário-geral do Par­tido cen­trou a sua in­ter­venção noutra questão, de­ci­siva: a ne­ces­si­dade de se «avançar para outro pa­tamar de res­postas aos pro­blemas dos tra­ba­lha­dores e do povo e do de­sen­vol­vi­mento do País» e a de­ter­mi­nação do PCP em con­tri­buir de­ci­si­va­mente para esse ob­jec­tivo. Ora, re­alçou, isto exige a rup­tura com a po­lí­tica na­ci­onal e eu­ro­peia «que levou o País para o fundo» e a con­cre­ti­zação de uma po­lí­tica «ver­da­dei­ra­mente al­ter­na­tiva, uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda como a que o PCP de­fende».

Adi­an­tando os traços es­sen­ciais desta po­lí­tica al­ter­na­tiva, Je­ró­nimo de Sousa re­alçou a ne­ces­si­dade de «pôr Por­tugal a pro­duzir, a criar mais ri­queza e a dis­tribuí-la me­lhor», de de­fender a pro­dução na­ci­onal e os sec­tores pro­du­tivos e de va­lo­rizar o tra­balho, os tra­ba­lha­dores e os ser­viços pú­blicos. A li­ber­tação da sub­missão ao euro, a re­ne­go­ci­ação da dí­vida nos seus prazos, juros e mon­tantes e o con­trolo pú­blico da banca e do sector fi­nan­ceiro são op­ções de­ci­sivas para con­cre­tizar essa al­ter­na­tiva, ga­rantiu.

Re­fe­rindo-se es­pe­ci­fi­ca­mente ao sector fi­nan­ceiro, o Se­cre­tário-geral do Par­tido as­se­gurou que o con­trolo pú­blico é a forma mais se­gura para «li­bertar o País das prá­ticas es­pe­cu­la­tivas e frau­du­lentas que têm vindo a ter in­ci­dência nos bancos de base na­ci­onal, como se viu no BPN, no BPP, no Banif e também no BES». Quanto à si­tu­ação no Novo Banco, cujo pro­cesso foi «mal con­du­zido pelo an­te­rior go­verno e pelo Banco de Por­tugal», o PCP opõe-se quer à sua pri­va­ti­zação quer a uma «su­posta na­ci­o­na­li­zação» que uma vez mais so­ci­a­lize os pre­juízos para mais adi­ante pri­va­tizar os lu­cros. Para o PCP, a ins­ti­tuição deve manter-se na es­fera pú­blica re­for­çando-se a in­ter­venção e o con­trolo do Es­tado sobre o sector.

2017 será ano de­ci­sivo

Antes, já Je­ró­nimo de Sousa tinha va­lo­ri­zado o que foi pos­sível al­cançar na ac­tual fase da vida po­lí­tica na­ci­onal, de­cor­rente – re­cordou uma vez mais – da luta dos tra­ba­lha­dores e do povo e da in­ter­venção do PCP. O Se­cre­tário-geral acres­centou que os co­mu­nistas tudo farão, neste ano de 2017, para que se «re­nove e am­plie o ho­ri­zonte de es­pe­rança» que se abriu e que mos­trou que o País «não está con­de­nado a ter como única opção o ca­minho de agra­va­mento da ex­plo­ração, de­clínio e re­tro­cesso».

Se é certo que os seus re­sul­tados são li­mi­tados, «porque li­mi­tadas são ainda as po­lí­ticas e as op­ções da acção go­ver­na­tiva», e que «era ne­ces­sário e pos­sível ir mais longe», Je­ró­nimo de Sousa ga­rantiu que o PCP não es­quece nem ig­nora «onde es­ta­ríamos se a acção des­trui­dora do go­verno PSD/​CDS ti­vesse con­ti­nuado». Da mesma forma que tem plena cons­ci­ência das «vá­rias me­didas e de­ci­sões» to­madas no sen­tido de repor di­reitos e ren­di­mentos que ha­viam sido rou­bados.

Mas ao mesmo tempo que va­lo­riza os passos dados, o PCP não es­quece as «muitas cen­tenas de mi­lhares de por­tu­gueses atin­gidos pelo de­sem­prego, su­jeitos a um tra­balho pre­cário e sem di­reitos, os muitos mi­lhares de jo­vens que con­ti­nuam a emi­grar, os baixos sa­lá­rios e as baixas re­formas, as de­si­gual­dades so­ciais e re­gi­o­nais». Por tudo isto, su­bli­nhou Je­ró­nimo de Sousa, «Por­tugal não pode deixar passar mais tempo adi­ando op­ções ne­ces­sá­rias e in­dis­pen­sá­veis ao seu de­sen­vol­vi­mento».

Pre­vendo que 2017 venha a «exigir muito do nosso Par­tido, dos seus mi­li­tantes e qua­dros, das suas or­ga­ni­za­ções» e que venha a ser um ano de «in­ten­si­fi­cação da luta dos tra­ba­lha­dores e das po­pu­la­ções», o Se­cre­tário-geral ma­ni­festou a sua con­vicção de que será pos­sível «dar um salto qua­li­ta­tivo na luta pela al­ter­na­tiva». Em 2017 ha­verá também elei­ções au­tár­quicas, lem­brou, re­al­çando que a CDU con­cor­rerá a «todos os mu­ni­cí­pios do País, bem como à larga mai­oria das fre­gue­sias».


Viver e lutar no Al­garve

Celso Costa, do Co­mité Cen­tral e da Di­recção da Or­ga­ni­zação Re­gi­onal do Al­garve, in­ter­veio no co­mício antes do Se­cre­tário-geral para des­tacar a acção do Par­tido na re­gião e as múl­ti­plas lutas que os tra­ba­lha­dores e as po­pu­la­ções ali travam pelos seus di­reitos e ren­di­mentos. In­de­pen­den­te­mente de avanços re­gis­tados, lem­brou o di­ri­gente co­mu­nista, no Al­garve «o de­sem­prego é ele­vado, a pre­ca­ri­e­dade e a ex­plo­ração são ge­ne­ra­li­zadas, as más con­di­ções de tra­balho e os baixos sa­lá­rios são a re­a­li­dade de muitos tra­ba­lha­dores, a po­breza é alar­mante».

A agravar a si­tu­ação, acres­centou, há obras es­tru­tu­rais «pa­radas ou por ini­ciar há de­ma­siado tempo», na pesca e no ma­ris­queio existem con­di­ções para um maior de­sen­vol­vi­mento e na agri­cul­tura os fac­tores de pro­dução são muito caros e a grande dis­tri­buição pre­ju­dica os pro­du­tores. Nos ser­viços pú­blicos de saúde, su­bli­nhou ainda Celso Costa, há ur­gên­cias hos­pi­ta­lares en­cer­radas com en­ca­mi­nha­mento dos utentes para o sector pri­vado, con­sultas dadas à chuva e uma «gri­tante falta de pro­fis­si­o­nais».

Por tudo isto, o membro do CC va­lo­rizou as lutas tra­vadas pelos tra­ba­lha­dores da Ad­mi­nis­tração Pú­blica, da ho­te­laria, do ae­ro­porto e do co­mércio, bem como pelos re­for­mados, po­pu­la­ções da Ria For­mosa e utentes dos ser­viços pú­blicos, es­pe­ci­al­mente da saúde. Já a in­ter­venção do PCP, ga­rantiu, será in­tensa.

Da luta da ju­ven­tude es­tu­dantil e tra­ba­lha­dora e da ac­ti­vi­dade da JCP falou Mar­lene San­tiago, su­bli­nhando a «graves in­su­fi­ci­ên­cias nas es­colas» e a pre­ca­ri­e­dade e baixos sa­lá­rios na ge­ne­ra­li­dade das em­presas, re­a­li­dades que, re­alçou, não foram ul­tra­pas­sadas pelos avanços al­can­çados com a nova fase da vida po­lí­tica na­ci­onal. Assim, é a luta que vai de­ter­minar a re­so­lução destes e de ou­tros pro­blemas, con­cluiu, lem­brando a re­a­li­zação em Abril do XI Con­gresso da JCP e em Ou­tubro do XIX Fes­tival Mun­dial da Ju­ven­tude e dos Es­tu­dantes, na Rússia.

Antes das in­ter­ven­ções, as cha­rolas de Santa Bár­bara de Nexe – tra­dição cen­te­nária da fre­guesia do con­celho de Faro, de mai­oria CDU – ani­maram as cen­tenas de pes­soas pre­sentes, al­gumas das quais até par­ti­ci­param com versos pró­prios nas des­gar­radas. Pe­rante a falta de quem to­casse fer­ri­nhos, a ve­re­a­dora da Cul­tura de Silves as­sumiu com es­mero e brio a ines­pe­rada ta­refa.

 



Mais artigos de: Em Foco

Pelo direito a viver e a produzir<br>na Ria Formosa

O Se­cre­tário-geral do PCP passou a manhã de sá­bado, 21, na Ilha da Cu­latra, onde ex­pressou pre­sen­ci­al­mente aos mo­ra­dores, pes­ca­dores, ma­ris­ca­dores e di­ri­gentes as­so­ci­a­tivos lo­cais a so­li­da­ri­e­dade dos co­mu­nistas à sua co­ra­josa e per­sis­tente luta contra as de­mo­li­ções que há muito ame­açam os nú­cleos po­pu­la­ci­o­nais das ilhas-bar­reira da Ria For­mosa. De todos eles, Je­ró­nimo de Sousa re­cebeu pa­la­vras de sin­cero re­co­nhe­ci­mento pela acção in­can­sável do PCP em de­fesa do di­reito a viver e a pro­duzir na­quela im­por­tante zona do li­toral al­garvio.